Um dia em Guimarães e Braga

Como já tínhamos conhecido o principal de Porto, resolvemos tirar um dia pra fazer um bate e volta e resolvemos ir conhecer as duas das cidades históricas mais antigas de Portugal: Guimarães e Braga. Distantes 20 minutos uma da outra, ambas ficam a menos de 1h de carro de Porto e dão um bate e volta bem redondinho.

Guimarães

Começamos nosso passeio por Guimarães, conhecida como “Cidade Berço”, pois foi ali que Portugal surgiu como um país independente e onde nasceu D. Afonso Henriques, seu primeiro rei. E nossa primeira parada foi onde tudo isso aconteceu: no Castelo de Guimarães.

No século X, a área onde hoje fica Guimarães era uma grande propriedade rural da Condessa Mumadona, que resolveu ali construir um mosteiro. E pra proteger o mosteiro tanto dos ataques dos mouros que vinham pelo sul, quanto dos normandos que vinham pelo norte, decidiu que construiria ali um castelo também. Cerca de um século depois, o local tinha crescido e foi dado à D. Teresa, que era filha do rei castelhano Afonso VI de Leão, quando ela se casou com o Conde D. Henrique. Foi então que o castelo passou por muitas transformações, sendo quase que refeito.

Também foi ali no castelo nasceu D. Afonso Henriques, que viria a se tornar o primeiro rei de Portugal. Após a morte de seu pai, D. Afonso Henriques se rebelou e entrou em guerra contra sua mãe, que queria anexar o Condado Portucalense novamente à Galícia. E foi ali mesmo nas muralhas do castelo que se deu o embate entre as forças de D. Teresa contra as de seu filho D. Afonso.

Saindo vitorioso do conflito, D. Afonso declarou a independência do Condado Portucalense, nascendo Portugal como uma nação independente. Mais tarde, conseguiu expulsar os mouros que ocupavam todo o centro e sul do país. Morreu depois de já ter unificado o país e recebido o título papal de soberano, ficando conhecido como “Afonso, o Conquistador”.

Com o tempo a família real se mudou para Coimbra, que se tornou a primeira capital do Reinado de Portugal, mas o castelo continuou pertencendo à família real e sendo estratégico para defesa do país. Séculos depois, acabou sendo esquecido, caindo em ruínas e quase foi demolido. Hoje, restaurado, é reconhecido como uma das 7 maravilhas de Portugal e o lugar onde o país nasceu.

Bem ao lado do castelo fica a capela São Miguel do Castelo, local onde D. Afonso teria sido batizado. Inclusive a pia batismal ainda está lá de pé, bem perto da entrada da capela.

No complexo também se encontra o Paço dos Duques de Bragança, um palácio construído no século XV, que acabou se tornando quartel militar na época da invasão napoleônica e depois palácio presidencial. Hoje ainda é usado como residência oficial do Presidente quando esse se encontra no norte do país.

O palácio tem algumas salas abertas para visitação, com algumas exposições como tapeçarias, mobiliário e salas de armas.

Mais interessante, diz a lenda que ali viveu a Rainha Catarina de Bragança, que tinha como costume sempre tomar chá ao fim da tarde. Ao se casar com Rei Charles II da Inglaterra acabou levando esse hábito com ela. Acabou virando moda entre a aristocracia inglesa sempre tomar chá às 5h, surgindo assim um dos maiores costumes ingleses até hoje! Por isso, uma das salas do Paço dos Duques é dedicado a ela.

O valor da entrada é 2 euros para o Castelo ou 5 euros para o Paço dos Duques, e comprando ambos ingressos juntos a entrada ao complexo sai por 6 euros.

Dali seguimos para o centro histórico, que não fica nem a 10 minutos à pé do complexo do Paço dos Duques. O centro histórico é bem pequeno e não tem como se perder!

Basta dar uma voltinha e pronto: já estará de volta no Largo da Oliveira, que ganhou esse nome justamente por ter tido uma oliveira ali plantada supostamente trazida por um santo. A árvore teria sido secado e depois renascido ao contato de uma cruz, tendo considerado um milagre. Foi então que a Praça Maior passou a se chamar Largo da Oliveira e que a igreja passou a ser chamada de Igreja de Nossa Senhora da Oliveira.

A dois passos dali fica a Praça de Santiago, onde reza a lenda que o apóstolo Tiago teria trazido uma imagem de Santa Maria e deixado em um templo pagão, trazendo o cristianismo para Portugal. A igreja feita em sua homenagem já não existe mais, mas a praça ainda assim tem vários outros edifícios medievais.

Ali perto também fica a Igreja de Nossa Senhora da Consolação, mandada construir no século XVI, e é a maior e mais importante da cidade. A igreja tem um bonito jardim em frente.

E entre ruas e casinhas medievais, há um pedacinho da antiga muralha, com os dizeres “Aqui nasceu Portugal”, ressaltando a importância histórica da cidade na história do país.

Encerramos nossa manhã nesse ponto e antes de irmos para Braga passamos pelo Santuário da Penha, que fica a uns 15 minutos de carro do centro de Guimarães. O local tem uma pequena igreja, mas o que atrai mesmo as pessoas é a vista que se tem de lá: além de Guimarães, é possível ver toda a região.

Braga

Braga foi nossa segunda cidade e o que mais me lembro é a quantidade absurda de igrejas! Para todo lado que se olhe, tem sempre uma igreja! São dezenas de igrejas e capelas. E justamente por ter tantas igrejas e praças, a cidade ficou conhecida como Roma Portuguesa, atraindo milhares de fiéis todos os anos.

Mas Braga vai além das (muitas) igrejas, já que é a cidade mais antiga de Portugal, tendo sido fundada ainda na Roma Antiga, em 16 a.C., sendo então chamada de Bracara Augusta. Hoje é a terceira maior cidade do país e é chamada de “Cidade da Juventude” (apesar dos mais de 2mil anos de história), por ser uma das cidades mais movimentadas e com mais jovens em Portugal.

Mas apesar de ser uma cidade maior, o centro antigo é bem compacto e fácil de andar e quase todos os pontos turísticos ficam concentrados ali, a poucos metros uns dos outros.

Começamos pelo Paço Arquiepiscopal, um palácio feito para os Arcebispos de Braga. Ao longo dos séculos, o complexo foi sendo reformado e aumentado, mas a parte mais bonita e icônica é a sua parte mais antiga que se chama Paço Medieval de Braga. Erguido no século XIV, o Paço Medieval se encontra bem em frente ao Jardim de Santa Bárbara.

Logo em frente se encontra a Câmara Municipal de Braga. O local é também conhecido como Paço do Concelho de Braga e teve a construção iniciada em 1754.

E a um quarteirão dali já fica a Sé de Braga, sendo a igreja mais antiga da cidade, com início da construção no século XI (e que foi construída por cima de um antigo edifício romano, aproveitando-se a fundação!). Ali foram enterrados os pais de D. Afonso I, o primeiro rei de Portugal.

Dali decidimos só andar pelo centro, sem um roteiro muito bem definido, apenas andando pelas ruas e parando em uma ou outra igreja, como a Igreja de Santa Cruz de 1625, até chegar na Torre de Menagem, que é tudo que sobrou do antigo Castelo de Braga.

Bem perto da Torre de Menagem paramos para almoçar no Restaurante Silvas, um restaurante bem acolhedor, simples e pequeno, onde se come no balcão (pelo menos quando fomos porque era inverno e a parte externa estava fechada), apenas se apontando o que se quer dentre as opções de pratos do dia. O dono era bem simpático, os pratos deliciosos e super barato. E as sobremesas eram de comer rezando também!

Depois de almoçar, demos mais umas voltinhas pelo centro, passando por outras praças e ruas nas redondezas antes de seguirmos para o Santuário do Bom Jesus.

Nossa última parada foi no principal ponto turístico de Braga: o Santuário de Bom Jesus do Monte. Esse Santuário fica a uns 15 minutos de carro do centro de Braga e é Patrimônio Mundial da Unesco. O local atrai centenas de turistas diariamente, sendo o segundo centro religioso mais visitado de Portugal (ficando apenas atrás do Santuário de Fátima).

Embora outras capelas tenham sido construídas no local anteriormente, o Santuário teve sua construção iniciada em 1722. O complexo hoje abriga a Basílica de Bom Jesus, as escadarias (escadórios) e um parque.

A Basílica de Bom Jesus fica bem no topo da colina e foi construída em estilo barroco a partir de 1784. E para se chegar lá em cima, basta subir os 581 degraus do Escadório!

Pra quem não tiver esse pique: saiba que há um teleférico que custa 2 euros ida e volta (ou 1,20 uma perna) e que te leva direto lá em cima. Como fomos em passeio privado, nosso guia primeiro nos levou na base e depois nos deixou direto na parte alta.

Mas pra quem tem mais ânimo, as escadarias são super bonitas e pode valer a pena pelo menos a descida! Os Escadórios estão divididos em Escadório do Pórtico, que é o primeiro trecho; Escadório dos Cinco Sentidos, com cinco lances de escadas com as Fontes da Visão, Audição, Olfato, Paladar e Tato; e o Escadório das Três Virtudes, com outras 3 fontes: Fé, Esperança e Caridade.

Por fim, o parque é todo arborizado e muito agradável, e caiu super bem como nosso fim de programa. E como o Santuário fica bem no topo de uma colina, de qualquer lugar do parque a vista da região é muito bonita!

O Santuário abre diariamente. A entrada e o estacionamento são gratuitos.

Bate e volta na prática

Como disse antes, nós optamos por fazer um passeio privado, que eu recomendo mais ou menos. Utilizamos a empresa Be Driven, que eu reservei pelo TripAdvisor na véspera. O motorista foi pontual e o valor foi 200 euros (o menor valor que encontrei) e o carro era super confortável e novo. De negativo, foi que o senhor que nos pegou estava sempre apressado e um tanto mal humorado. Além disso, não houve muita flexibilidade e antes mesmo de descermos em algum lugar já dizia algo como “parada de 5 minutos aqui”. Toda a ideia de um passeio privado é justamente poder fazer as coisas no seu próprio ritmo, sem se sentir nem apressado em alguns lugares ou que passou tempo demais em outro. Mas a correria foi tanta que até chegamos um pouco antes do previsto no nosso hotel!

No entanto, como na época o David ainda estava se recuperando de uma cirurgia no joelho e minha mãe também não podia fazer muito esforço, o passeio privado foi a melhor opção para conhecer as 2 cidades em um só dia. E essa empresa era a única com bom preço que tinha disponibilidade reservando na véspera. No fim, também realmente foi bem mais cômodo do que alugar carro/buscar carro/devolver carro para apenas um dia.

Para quem preferir fazer por conta por transporte público, há opção de trem e ônibus tanto para Braga quanto para Guimarães. Entre ambas a única opção é o ônibus, em um trajeto de 30 minutos. Mas para fazer ambas usando o transporte público em um dia só é preciso sair bem cedo e pode ficar corrido. Talvez seja melhor escolher apenas uma nesse caso.