Trier é uma cidade quase que desconhecida para os turistas, sendo mais conhecida apenas pelos residentes de Luxemburgo e moradores da região do Moselle. Mas não deveria ser! Além de ser a cidade mais antiga da Alemanha, essa cidade da região do Moselle abriga não só monumentos romanos e medievais que ainda estão de pé, como também um centro histórico muito bem preservado!
Trier foi fundada pelo povo celta no século IV a.C, tendo sido conquistada pelos romanos no século I d.C. No século IV d.C., Trier já era uma das maiores cidades do Império Romano e, por isso mesmo, capital da província. Assim, contando com mais de 2mil anos de história, e um centro histórico bem preservado (apesar dos bombardeios da Segunda Guerra Mundial), Trier não recebe o destaque que merece e é um desses cantos que poucos já ouviram falar. Assim, para quem estiver por Luxemburgo (que é outra jóia esquecida), um bate-e-volta até Trier vale demais a pena e dá um roteiro bem redondinho.
A forma mais comum é chegar pela estação central de trem (Trier Hauptbahnhof). O centro histórico estará a cerca de 10 minutos à pé. Basta pegar a rua/avenida Theodor Heuss Alle e em poucos minutos já estará na Porta Nigra. Por ser uma rua toda arborizada, o caminho em si já é super bonito, ainda mais se for primavera ou outono.
A Porta Nigra foi construída pelos romanos por volta do ano 170 d.C. e é o maior monumento ainda romano de pé na Alemanha. No período romano, 4 portões davam acesso à cidade, tendo apenas restado esse. Com o tempo, ainda no início da Idade Média, a cor das pedras escureceram e daí veio em latim do portão da cidade.
A Porta Nigra fica na Praça da Porta Nigra (Porta-Nigra-Platz). Ali na praça já estará o centro de turismo em que vc pode passar e pegar um mapa da cidade. Quase em frente tem uma estátua do Karl Marx, já que ele nasceu em Trier. E seguindo pela Praça da Porta Nigra você chega na Praça do Mercado Principal (Hauptmarket).
A Hauptmarket é a praça principal de Trier e o coração do centro histórico. Em volta estão prédios e casas centenárias, várias barraquinhas de vinho, cerveja, cachorro quente alemão, pretzel e outras comidinhas de rua. Em dezembro, é ali que acontece o Mercado de Natal, com dezenas de barraquinhas e decoração natalina.
Ali também já está a Catedral de Trier/ Catedral de São pedro (Trierer Dom/ Dom St. Peter). Essa é a igreja mais antiga de toda Alemanha, que ainda remonta aos tempos romanos quando o Imperador Constantino, tornando-se católico, mandou que a mesma fosse construída há mais de 1700 anos.
O interior da igreja é bem bonito e vale a visita. Dentro da Igreja há relíquias trazidas da época das cruzadas, sendo a principal o Manto Sagrado de Jesus Cristo, que teria sido a túnica usada por Jesus Cristo durante a crucificação. O manto fica guardado dentro de uma urna, que fica numa capela separada atrás do altar, e que só é possível ver por essa janelinha:
Atrás da Catedral está a Igreja de Nossa Senhora (Liebfrauenkirche), que foi a primeira igreja de estilo gótico construída na Alemanha. No local já havia uma igreja, também da época romana, mas que foi demolida e a gótica foi construída por cima, aproveitando-se apenas as fundações.
E nos fundos da Igreja de Nossa Senhora já fica a Aula Palatina ou Basílica de Constantino (Konstantinbasilika). Construído a mando do Imperador Constantino I, por volta do ano 310, era o Palácio do Imperador (Aula Palatina). Serviu de palácio até a Idade Média, quando foi diminuído e convertido em igreja, tornando-se mais tarde uma igreja protestante. Durante um bombardeio no fim da Segunda Guera Mundial, a igreja pegou fogo e, mesmo após a sua reforma, não foi possível restaurar as decorações no interior. Ainda assim, o exterior foi restaurado e tem uma fachada com 17 séculos de história.
E ali atrás já estará também o Electoral Palace. O Palácio serviu como residência para os arquebispos e hoje é um prédio governamental. Os jardins estão sempre abertos ao público.
Esse pode ser um bom momento para a pausa do almoço, já que já terá visto as atrações mais importantes de Trier. Próximo da Basílica de Constantino fica um dos melhores restaurantes de Trier: Restaurant Kartoffel Kiste. Eles tem todo o tipo de comida alemã, desde o Schnitzel simples aos mais elaborados possíveis, vários tipos de cerveja e até mesmo opções da própria cidade.
O prato típico de Trier é o Trierer Gefüllte, que foi o que escolhi na minha última ida lá. São bolas de batata recheadas com carne moída, gratinadas com molho de queijo. E acompanhado da cerveja da cidade.
Depois da comilança, hora de voltar ao roteiro. Você pode tentar fazer todas as opções que vou falar agora, ou escolher uma ou duas. Depende de quanto tempo vc terá e da sua disposição.
Saindo do restaurante você já estará a 3 minutos à pé da Casa do Karl Marx (Karl-Marx-Hause). A verdade é que Karl Marx apenas nasceu ali, ficou algumas semanas com seus pais e depois a família se mudou pro outro lado da cidade. Na época do regime nazista, tudo que havia de mobiliário e objetos pessoais ainda remanescentes dele e da família foi destruído.
De forma que dentro da casa não há qualquer objeto. De toda forma, vale a visita ao museu. Além da casa em si que é de 1727 e está em ótimo estado, o museu conta a história pessoal de Karl Marx, como surgiram às críticas ao capitalismo do século XIX e aos efeitos das suas ideias até hoje. Lá você também encontra cópias originais de algumas de suas obras.
A cerca de 1km da Casa do Karl Marx está a Ponte Romana (Römerbrücke). Essa ponte foi construída por cima do Rio Moselle no século II pelos romanos. Ainda hoje está em pleno funcionamento, inclusive por carros.
Ali perto também estará o Barbarathermen, que são ruínas de antigos banhos romanos. E mais à frente também tem o Kaiserthermen, que também são outras ruínas de termas romanas. Das duas, a Kaiserthermen está mais bem conservada.
Mas, pra mim, o mais interessante é o Anfiteatro (Trier Amphitheater). Também construído no século II, esse anfiteatro romano comportava cerca de 20mil pessoas. Como toda arena daquela época, os espetáculos incluíam eventos de gladiadores e shows de animais.
Dá pra visitar o subsolo do anfiteatro. Você sobe e desce pelas mesmas escadas que gladiadores saíam. E era ali nos porões que os prisioneiros condenados à morte esperavam ao lado de animais famintos pelo espetáculo final.
E dali do anfiteatro até a estação de trem é quase que uma caminhada reta. Então você pode dar o dia por encerrado ou voltar pro centro histórico e fazer umas comprinhas. Trier é ótima pra compras, com preços melhores que Bélgica, França e, claro, Luxemburgo. E as opções vão desde marcas populares alemãs até marcas de luxo.
Outra opção é fazer uma pausa pra um café e experimentar algum doce típico como o Apple strudel (Apfelstrudel). Uma boa pedida é o Café 1900, bem no centro histórico. Eles sempre têm uma boa variedade de tortas. O único detalhe é que ninguém fala inglês por lá.
Uma outra opção para a tarde é fazer o passeio de barco. Você pode comprar no centro de informações turísticas. Os barcos fazem um tour pelo Moselle, passando pelas regiões produtoras de vinho da Alemanha e Luxemburgo. Pode ser bem legal numa tarde de verão ou primavera.
Trier na prática
Estando em Luxemburgo é muito fácil ir a Trier. Considerando que moro a 40 minutos de Trier, sempre vou de carro. Há vários estacionamentos no centro e, quase sempre, há vagas.
Ir de trem também é fácil. Basta pegar o trem da estação central de Luxemburgo com destino à Trier. Há trens de hora em hora e o trajeto dura 1hora. As passagens custam 9 euros por pessoa e dá pra comprar direto na máquina. Não é preciso validar o bilhete.