Castelo de Neuschwanstein

O Castelo de Neuschwanstein (ôh nome difícil!) fica na Rota Romântica na região da Bavária, quase na fronteira com a Áustria. Sem dúvidas, esse é um dos cartões postais mais famosos da Alemanha (senão o mais famoso!). O lugar recebe 1,5milhão de turistas anualmente, sendo 6mil em média no verão.

O castelo foi construído a mando de Ludwig II, Rei da Bavária, no século XIX. Em 1866, a Baviera havia perdido uma guerra contra a expansão da Prússia, que retirou o direito do rei de dispor de seu exército em caso de guerra. A partir de então, Ludwig II deixou de ser um governante soberano. Por isso, ele começou a planejar seu próprio reinado, que seria um “Reinado Soberano sob a graça de Deus”, na forma de seus castelos e palácios, onde poderia ser um verdadeiro rei.

A sede desse reinado seria o Castelo de Neuschwanstein. A obra que foi prevista (por ele) para ser feita em 3 anos, mas quase 20 anos depois ainda restava inacabada. Assim, ele se mudou para o castelo mesmo inacabado e ali viveu lá por pouco tempo antes de falecer em 1886, um dia depois de ser internado e diagnosticado como louco. Por consequência, o castelo nunca foi acabado e dias depois da sua morte foi convertido já em museu.

Durante a Segunda Guerra Mundial, obras de artes saqueadas pelos nazistas foram ali escondidas. No final da guerra, foi considerada a ideia de explodir o castelo para evitar que tanto as obras de arte, quanto o castelo em si, caíssem nas mãos dos inimigos. Mas antes que qualquer coisa fosse feita, os Aliados chegaram, recuperando centenas de obras. Depois disso, o castelo voltou a ser um museu, que recebe milhares e milhares de pessoas todos os meses.

Dizem que o Castelo de Neuschwanstein foi a inspiração para o Castelo da Cinderela da Disney. Ainda se fala que o Castelo da Bela Adormecida também foi inspirado nele. Verdade ou não, em meio à florestas, lagos e montanhas, realmente o castelo parece saído de um conto de fadas.

E pra se ter essa vista linda do castelo o jeito é ir até a Ponte Maria (Marienbrücke/ Mary’s Bridge). Só desse ponto é possível ver o castelo por inteiro, bem como as cercanias. Ludwig mandou construir a ponte justamente para admirar o castelo e acompanhar o progresso da obra.

E é aqui que começam meus infortúnios durante a visita. Eu demorei muito a escrever sobre Neuschwanstein, até porque foi um dos maiores perrengues que já passei em toda minha vida. E sempre que lembro da viagem, lembro da perrengueira que foi!

Quando fomos a ponte estava fechada para manutenção. Então já não conseguimos ver o castelo por inteiro. Eu já sabia disso porque tinha visto no site o aviso, mas imaginei que talvez desse pra ir até próximo da ponte, mas o caminho também estava fechado. Então só conseguimos ver a fachada do castelo, mas não ele por inteiro como nessa foto aqui:

Foto retirada da Wikipedia: o castelo visto da Ponte

Pior ainda, mesmo entrando com antecedência no site, não havia mais disponibilidade de ingressos para a visita (afinal, era verão). Ainda assim, insistimos em ir por conta ao invés de ir com um tour com ingresso incluso. Até porque a visita dentro do castelo dura apenas 30minutos, é totalmente guiada em grupos grandes, sem possibilidade de fotos, e dizem que não impressiona muito, que realmente o interessante é ver por fora.

Chegando lá, mesmo chegando relativamente cedo, o lugar estava abarrotado de gente com uma fila de mais de 1h, sendo que o próximo horário disponível era só mais pro fim da tarde. Não, obrigada! Achamos que poderíamos subir e ver só por fora, já que diziam que era o que valia mesmo a pena (em todos os blogs que li!).

Subimos, vimos a fachada, que me pareceu bonita, mas nem de longe o castelo mais lindo de toda Europa. Andamos pra um lado, andamos pro outro (não tem como dar a volta no castelo ou ver muito mais do que a fachada) e dentro de uns 15 minutos percebemos que não tinha muito mais o que fazer a não ser descer, almoçar, andar pela cidadezinha e encarar mais de 2hs pra voltar para Munique (que no nosso caso viraram 9 horas como vou contar daqui a pouco!).

Com tudo isso, eu já estava um pouco decepcionada. Afinal, foram horas de trem pra mal conseguir ver o castelo. Pode até ser que se a ponte estivesse aberta, ou se eu tivesse conseguido compras os ingressos antecipadamente, ou caso tivesse pego um tour combinando com outros castelos, ou mesmo ido de carro, teria valido mais a pena. Fato é que eu achei o lugar longe demais pra só se ver mais ou menos e não ter muito o que fazer. Mas mal sabia eu que o pior ainda estava por vir e que eu iria passar por uma perrengueira sem precedentes! hahah

Mas antes de eu contar esse perrengue master que passamos, vou explicar aqui direitinho como ir, pra quem queira ir por conta própria, e mais algumas dicas gerais.

Como ir de Munique ao Castelo de Neuschwanstein

Um bate-e-volta a partir de Munique é perfeitamente possível, mesmo de transporte público e mesmo gastando o dia todo nisso. De carro, são quase 2 horas. De trem são duas horas. Então, resolvemos ir de trem. Afinal, o Bayern-Ticket (Bavaria Ticket) te permite pegar qualquer transporte público em toda a região da Bavária a partir das 9horas da manhã durante a semana e em qualquer horário aos finais de semana. Atualmente, o valor é 25 euros por pessoa e mais 8 euros pra cada pessoa que vai junto com você. Então, no nosso caso, daria 33 euros pra nós 2. Bem mais barato que alugar um carro e podendo só ir admirando a paisagem.

Compramos o ticket na máquina da estação de trem. O Bavaria Ticket fica na opção “All offers” -> “Offers per Federal Land” -> “Bavaria”. Ticket comprado, procuramos a plataforma para a cidade de Füssen. Ainda bem que chegamos cedo e fomos um dos primeiros a entrar no trem. Algum tempo depois o trem lotou e muita gente foi em pé em uma viagem de 2hs!

Chegando em Fussen, logo em frente a estação fica uma parada de ônibus. Aí basta pegar o ônibus que pra Hohenschwangau/Castles e aí em uns 10 minutos vc chega nos castelos e todo mundo desce nessa parada, que já fica quase em frente à bilheteria.

Daí você tem 2 opções: uma trilha de uns 45 minutos ladeirinha acima ou ônibus (que custa uns 2 euros e o Bayern Ticket não é aceito). Como estava um calor de matar, optamos por pegar o ônibus que subiu lotaaado (inclusive, fomos em pé na porta!). O ônibus deixava bem perto da entrada. Bastava subir (mais uma) ladeirinha. Mas pra voltar a descida é super tranquila e o caminho é bem bonito.

Onde comer em Neuschwanstein

Na descida do castelo, tem o restaurante do próprio castelo. Lá tem um bistrô e um restaurante. Fomos no restaurante, e ele fica bem no meio da floresta. Como era verão, o terraço estava aberto. Sentamos ali, comemos comida típica, tomamos uma cerveja.

Eles tem variados tipos de cerveja e servem pratos bem típicos da região. Ou seja, o restaurante eu realmente recomendo! Achei a comida boa, não era muito acima do preço médio apesar de ser praticamente junto ao castelo e o atendimento bom. Todo o ambiente era bem agradável na verdade. E bem ali, na cara do gol!

O que mais tem pra fazer

O vilarejo é bem bonitinho e me parece que a cidade de Füssen também é bonitinha. Queríamos ter explorado a cidade, mas à tarde o tempo estava armando pra chuva, então achamos melhor voltar logo pra Munique.

De vários pontos do vilarejo, e mesmo subindo/descendo o castelo, é possível avistar o Castelo de Hohenschwangau. Esse é o castelo que Ludwig cresceu e viveu e fica muito perto de Neuschwanstein. Inclusive, é na mesma bilheteria que se compra entradas para ambos. Como a fila da bilheteria estava gigante não tivemos coragem de encarar.

E de novo, como o tempo estava armando pra chuva, resolvemos não ir até lá e voltar logo pra Munique mais cedo.

O mega perrengue da viagem

O caminho de volta foi uma grande aventura. Na volta, pegamos o ônibus até Füssen, mas de lá tivemos que pegar um outro ônibus, pois o trem nāo estava funcionando e estavam colocando esse trem de substituição até uma estação que não me lembro mais o nome no meio do nada.

No momento em que chegamos nessa micro estação, ou seja no momento de descer, caiu uma mega tempestade! E o motorista nos fez descer e continuou com o ônibus parado lá! Foi entāo que um casal de orientais roubou minha sombrinha (isso mesmo!). Ficamos encharcados, tentando nos esconder em um caminhāo de obras, com outros orientais até chegar o trem que nāo tinha horário coordenado com nada e era muito zoado! Depois disso, tínhamos mais 2 horas de viagem de volta a Munique e achamos que todo nosso infortúnio havia acabado. Quem dera…

Faltando pouco pra chegar em Munique um guia turístico disse que havia acontecido um ataque terrorista. E isso foi lá pelos idos de 2016, bem na época do ataque em Nice e no Bataclan. Mais alguns minutos e nos falaram que eram 2 ataques terroristas na verdade! Esse guia desceu com o grupo dele numa estaçāo nos subúrbios de Munique, já que a estaçāo central estava sendo evacuada e nos falou pra acompanhá-los. Assim fizemos e descemos com ele nessa estação.

Alguns segundos depois houve um boato de que a estaçāo estava sob ataque. O alarme soou e saímos todos correndo! As pessoas gritavam: “run, run! Just go!”. E até os policias começaram a gritar pra correr! Logo, vc já pode imaginar todas as pessoas correndo enlouquecidas, se atropelando pelas escadas, inclusive nós.

Assim, saímos pelas ruas em um grupo gigante que resolveu se separar em pequenos grupos pra nāo chamar atençāo. Melhor molhados, congelando, andando, correndo do que morrendo né! Andamos um tanto até que encontramos um restaurante que nāo nos aceitou porque nāo queria muita gente dentro. E fomos pra outro que colocou todo mundo pra dentro. Bebemos algumas cervejas e comemos, esperando ver o que acontecia.

As notícias eram todas confusas, pessoas em pânico, sem transporte público, taxis proibidos de pegar passageiros. E tudo isso foi antes do rooming pela União Europeia, de forma que não conseguíamos acessar internet em qualquer país, nem mesmo com chip europeu. Logo, estávamos sem acesso à internet. Também nāo conseguíamos notícias verídicas e os boatos se avolumavam, causando mais pânico: de que eram múltiplos ataques e muitos mortos.

Ficamos lá por 2 horas e entāo sem mais nenhuma outra alternativa resolvemos andar 8km até o centro. Andamos um tanto. Entāo, com o cara que esse tempo estava conosco, desde o trem, e erámos quase 20 pessoas, começou a pedir carona na rua em dado momento pra todo mundo. Alguns instantes depois alguém parou e nos trouxe até nosso hotel. Finalmente 9 ou 10 horas depois de sair dos castelos, chegava eu de madrugada no hotel!

O tempo todo eu só pensava: isso é um sonho! Ou um pesadelo! O que está acontecendo!? Foi só no outro dia que descobrimos que, na verdade, foi apenas um atentado (e não 2, como inicialmente noticiado, e nada aconteceu na estação de trem). O ataque aconteceu perto de um shopping feito por um jovem contra imigrantes muçulmanos. Depois de matar pessoas, o cara se suicidou.

Por mais louca que essa noite tenha sido, o importante é que estávamos bem e estivemos seguros o tempo todo. Contamos com a boa vontade de completos estranhos que nāo tinham obrigaçāo nenhuma conosco e que fizeram questāo de garantir nossa segurança: o dono do restaurante, o caronista e muito muito muito especialmente o guia turístico, que nāo se afastou nem por 1 minuto da gente, mesmo a gente caindo lá no grupo dele totalmente de gaiato! Entāo, no fim das contas, percebi que assim como há desses psicopatas, também há muita gente boa por aí. E às vezes, felizmente, a gente pode receber uma boa dose de bondade humana!

Por isso mesmo, muita gente pode dizer que eu não curti a experiência de ir ao castelo, justamente por causa do ataque. Mas não. Na verdade, eu estava justamente no trem pensando como é muito longe e meio perrenguento ir ao castelo, pra nem vê-lo direito, quando anunciaram no trem que estava tendo um atentado terrorista.

Como disse antes, se a ponte estiver aberta, se vc conseguir comprar o ingresso antes, se não for verão com tudo lotado de toda forma, se fizer algum tour combinando com outros castelos, pode até ser que valha a pena. Mas em geral, eu achei toda experiência meio perrenguenta pra ver um castelo, e nem achei o castelo tão deslumbrante assim (em comparação com outros europeus que já visitei e que não tinham toda essa dificuldade!). portanto, na minha opinião, Neuschwanstein é superestimado!