Como mencionado anteriormente, a Coréia entrou de última hora nos planos de uma viagem que começou focada no Japão, evoluiu para incluir a China e finalmente acabou sendo Japão, Coréia do Sul e China.
No fim das contas, dentro do tempo que tínhamos para dividir entre a China e a Coréia, acabamos com 2 dias completos na Coréia. Com isso em mente, nos organizamos para ver o máximo possível no mínimo de tempo. Um dia inteiro seria dedicado às principais atrações de nosso interesse em Seul, e o segundo dia seria dedicado a conhecer a Zona Desmilitarizada e a fronteira com a Coréia do Norte (assunto do próximo post). Sem mais delongas, vamos lá.
Seul é uma cidade enorme e a maior do país. De forma similar ao que vimos no Japão, é uma cidade extremamente moderna, mas que ao mesmo tempo casa essa modernidade com a história milenar do país, justapondo arranha-céus com templos coloridos, lojas de cosméticos e vaidade ao lado de vilarejos e artesanato.
É a capital de um país por muito assolado por guerras e trocas de domínio, e que, com a interrupção da atual Guerra da Coréia pela assinatura do armistício, se focou no seu próprio desenvolvimento. A Coréia do Sul se reergueu das cinzas destes conflitos para se modernizar e se tornar uma potência tecnológica, exportadora de cultura e um dos países mais desenvolvidos do planeta.
Muito pra ver e para fazer, então escolhemos as seguintes atrações:
Memorial da Guerra
Começamos nosso dia pelo Memorial da Guerra, uma das atrações mais famosas e populares do país.
Chegamos lá de metro, parando na estação Namyeoug, pois era na nossa linha de metro, mas a estação Samgakji fica mais próxima da entrada principal.
O Memorial da Guerra é na verdade mais do que o nome indica. É um grande complexo que inclui um memorial propriamente dito, dedicado aos soldados do mundo inteiro que pereceram em combate durante a Guerra da Coréia. Mas inclui também um museu dedicado a história e conquistas militares do país, jardins, praças com muitas esculturas e obras de arte focadas nos conflitos em que o país esteve envolvido e uma grande area externa interativa com tanques, aviões, mísseis e maquinários de guerra em geral, onde é possível interagir de forma limitada com alguns, como entrar em alguns veículos blindados de transporte de pessoal (APCs). A entrada é gratuita.
Iniciamos nossa visita pelos corredores honrando os combatentes, parte da exibição externa e que leva ao prédio principal. Aqui, por todas as paredes, estão gravados os nomes dos soldados Coreanos e de outros países que perderam sua vida durante a Guerra da Coréia e do Vietnam, divididos por país de origem.
Em seguida, entramos no prédio principal, mas não antes de admirar a vista da Praça da Paz, com o imponente monumento a Guerra da Coréia em posição central.
Uma vez no prédio principal, parte da mostra é dedicada à história da guerra, passando pelos conflitos em que a Coréia esteve envolvida ao longo do tempo, inclusive com o Japão, com quem eles têm uma longa história conflituosa que até hoje permanece um tanto quanto mal resolvida. Esta ala mostra réplicas de equipamentos navais, armamentos, armaduras e contém videos e imagens para ilustrar as conquistas militares de outrora.
Depois de aproveitar as mostras internas, incluindo muitas informações sobre a Guerra da Coréia (sem maiores detalhes por ora, já que isso será assunto do passeio do dia seguinte), resolvemos explorar a parte externa do complexo.
Nela, é possível ver muitos equipamentos de guerra diferentes. Tanques, artilharia, aviões, embarcações, APCs, carros, mísseis, e muito mais. Todos originais e que foram utilizados durante a Segunda Guerra, Guerra da Coréia e alguns outros conflitos durante a Guerra Fria.
Para encerrar o passeio, seguimos em frente, observando as muitas esculturas do jardim do Memorial, como a famosa estátua dos dois irmãos, representando soldados das duas Coréias, inimigos no campo de batalha, mas se abraçando, buscando representar a reconciliação de uma nação fragmentada em duas.
Igualmente marcante é o Relógio da Paz.
Essa escultura mostra duas meninas no topo de uma pilha de escombros de guerra, com restos de tanques, aviões, bombas e armas, utilizadas na guerra pelas duas Coréias, segurando dois relógios.
Um, parado no tempo, marca a hora e data do início da guerra da Coréia. O outro, continua em funcionamento, mostrando o tempo atual.
Um terceiro relógio já esta preparado e fica perto da estátua, e nele pretendem colocar a data e hora exata da assinatura do tratado de paz, quando finalmente puserem um fim a Guerra da Coréia e as duas nações voltem a ser uma só.
Este foi o Memorial da Guerra. Acho que a mensagem mais interessante que tivemos alí, e que foi uma mensagem consistente em todo nosso tempo no país, foi o fato da Coréia do Sul desejar a unificação. Mesmo depois de todo esse tempo, mesmo depois de todas as agressões e investidas do regime hostil ao norte….os Sul-Coreanos querem paz, e uma paz que resulte na unificação do território, das famílias e dos irmãos separados por anos de guerra.
Palácio Gyeongbokgung
Findo nosso passeio pelo Memorial, pulamos em um taxi e fomos direto para o Palácio Gyeonbokgung (depois de dificuldades pra fazer o taxista entender a gente falando esse nome).
Seul possui 5 grandes palácios principais, todos construídos durante o reinado da dinastia Joseon, período onde Seul passou a ser a capital do reinado. Esta foi a última e mais duradoura dinastia do país, reinando entre 1392 e 1897. Após este período, a Coréia manteve-se como um império até 1910, quando o país foi ocupado e anexado pelo Japão.
Os 5 palácios são Gyeongbokgung, Changdeokgung, Changgyeonggung, Deoksugung e Gyeonghuigung.
Destes, Gyeongbokgung é o maior e o mais antigo, então pela falta de tempo e pelo fato deste também ser o palácio onde poderíamos ver a troca da guarda, optamos por visitar apenas este.
Gyeongbokgung significa “Palácio grandemente abençoado pelos céus”, e foi o centro de governo da Coréia por 5 séculos durante o reino da dinastia Joseon. Como é de praxe nos grandes palácios orientais, não é apenas uma construção, mas um complexo de construções cercados pelos muros do palácio e com acesso dividido por vários portões.
Foi destruído e restaurado sucessivas vezes ao longo de sua história, mas até hoje é amplamente considerado como o mais belo e imponente dos palácios de Seul. Chama bastante atenção por sua arquitetura tradicional e suas cores, misturando verde, vermelho e dourado.
O interior das construções impressiona, por sua mistura de cores, detalhes e arte, tudo muito bem conservado e restaurado.
Mas outra atração é exatamente a troca da guarda. Neste palácio, os guardas mantém a tradição de se vestir (e as vestimentas mudam dependendo da estação do ano) e portar armamentos tradicionais do período da dinastia Joseon. É possível ver a apresentação diariamente, as 10 AM e 2 PM. A apresentação ocorre no pátio principal, entre os dois portões principais.
Duas dicas importantes:
Primeiro, o pátio é 100% aberto. Quando fomos, estava extremamente ensolarado e quente. Então se for o caso, preparem-se! Não tem sombras, não tem para onde escapar. É aguentar até acabar (dura só 20 minutos a troca da guarda).
Segundo, os guardas realizam um treinamento ANTES da troca, logo do lado de fora do pátio central, na saída leste. Lá é possível vê-los ensaiando alguns movimentos de combate antes da troca. Vale a pena conferir! Achamos até mais interessante do que o ritual de troca em sí.
A entrada custa apenas 3,000 won (algo como R$11) e quem estiver vestido com roupas tradicionais Coreanas, entra de graça (o que explica a infinidade de meninas usando roupas do período Joseon passeando pelo palácio).
Parque Cheonggyecheon
Terminado o passeio pelo palácio, resolvemos andar até o parque Cheonggyecheon. Esta atração é um longo parque urbano que segue um riacho por 11 km até seu desague no rio Han. É o maior parque horizontal do mundo.
Para chegar lá, passamos por alguns eventos inusitados. Como essa passeata pró-Estados Unidos (notem que estávamos lá exatamente na época que o regime Norte-Coreano estava bem ativo e lançando mísseis sobre o Japão)….
E os Vingadores Coreanos…
Mas enfim chegamos no belo Parque Cheonggyecheon.
Este longo parque é bastante popular entre os locais e oferece muitas atrações. Eles entram na água (é rasa), há músicas, artesanato, food trucks espalhados por todo o lugar, e também espaços naturais, arvores e vegetação. Um pouco para todos os gostos e ótimo para uma caminhada pela cidade.
Aldeia Bukchon Hanok
Continuando nossa caminhada, resolvemos encerrar nosso dia na aldeia Bukchon Hanok, já próxima de nosso hotel.
É uma área extremamente charmosa, onde ainda é possível encontrar a “antiga Seul” viva. As casas aqui seguem o estilo tradicional do período Joseion, as chamadas Hanok.
Hoje em dia, muitas foram convertidas em lojas de artesanato, restaurantes, guesthouses e centros culturais, e o bairro é cortado por uma via comercial movimentada.
Mas o charme dele continua sendo simplesmente andar pelas vielas estreitas e aproveitar a arquitetura local…
Assim, encerramos nosso dia, com o por do sol sobre a velha Seul. Dia seguinte tem mais, com nossa pequena aventura até a fronteira com a Coréia do Norte!