O que NÃO fazer em Veneza

Veneza dispensa maiores apresentações. Quem nunca ouviu falar dos encantadores canais de Veneza, cidade de onde saiu o famoso explorador Marco Polo, bem como do mulherengo Casanova. Veneza é tão famosa que basta uma cidade ter canais que já é chamada de “Veneza do Norte”, “Veneza do país X”, “Veneza da Ásia”, ou seja lá Veneza de onde. Mas a verdade é que a verdadeira Veneza a gente só vê em Veneza mesmo!

E crescemos vendo imagens de Veneza, ou lendo zilhares de posts de “dicas imperdíveis” de Veneza, e em todos só se lemos o quanto Veneza é “linda”, “deslumbrante”, “romântica”, “incomparável”, dentre outros adjetivos semelhantes. E acho que foi por isso mesmo que saí de lá decepcionada.

Não que a cidade não seja bonita. Realmente é! No entanto, não é a cidade mais fácil de se visitar. E pode ser um perrengue danado, o que foi mesmo no nosso caso. Somando-se ao fato que era nossa lua-de-mel, realmente o romantismo prometido ficou de escanteio. Então esse post vai ser de dicas do que NÃO fazer pra sua viagem não ser uma furada total!

Então, pra dar contexto, essa viagem eu fiz já há 6 anos. Era nossa lua-de-mel e resolvemos fazer um cruzeiro que saía de Veneza e partia para a Grécia (e que depois eu vou escrever direitinho pq o cruzeiro foi mesmo ótimo!). O desembarque também era por Veneza e do porto mesmo já seguimos para a Toscana.

Pra dar mais contexto ainda, ainda estávamos pagando o casamento, pagando o cruzeiro, pagando mudança, pagando a viagem pra Europa numa época em que o David estava numa fase mais inicial-intermediária da carreira e eu professora da rede pública brasileira que tinha acabado de pedir demissão, e pagando tudo em real brasileiro. Resumo da ópera: foi uma viagem bem budget! O que não combina naaada com Veneza!

Ponte di Rialto e Grand Canal

Estamos falando de uma cidade em que um café ou uma coca-cola custam 10 euros, um almoço uns 100 euros, uma espelunca pra dormir caindo aos pedaços uns 200 euros e um passeio de gondola de 30minutos não sai por menos de 80 euros. Foi por isso mesmo que nos hospedamos em Mestre, uma cidade ao lado a apenas 15 minutos, com hotéis e restaurantes bons com preços normais. E mais pro fim do post eu vou falar do hotel em si.

Chegamos em Mestre já no fim da tarde pq nosso vôo atrasou e acabamos ficando por lá mesmo. Jantamos em um restaurante maravilhoso, recomendado pelo nosso hotel, bem escondidinho e que custou apenas 40 euros. No outro dia, tomamos café e fomos cedo para Veneza.

Pegamos o trem até a Estação Venezia Santa Lucia (pronuncia-se Santa Lutchia). Seja de Mestre, ou de qualquer outra cidade, essa estação é a entrada pra quem vai pra Veneza de trem. E saindo da estação você já encontra os Vaporettos, que são o “transporte público” de Veneza. São barcos/balsas que levam os passageiros de um lado para o outro. Afinal, Veneza é um conjunto de pequenas ilhotas onde não há qualquer acesso para carros.

Estação Santa Lucia e Grand Canal

O passe do Vaporetto custa 7,50 euros e tem 75 minutos de validade. Mas vale mais a pena pegar a opção de 24 horas que sai por 20 euros, ou de 48 horas que sai por 30 euros. Basta validar o ticket antes de entrar e pronto. Vc pode usar todas as linhas do Vaporetto, incluindo as que vão para Murano, Burano e Torcello. Comprado o passe é só embarcar em um que esteja indo para Rialto ou Piazza San Marco. E dali vc já pode fazer tudo à pé. Aliás, mesmo da estação Santa Lúcia dá pra ir à pé pra Rialto e Piazza San Marco, mas esteja preparado pra uma caminhada de uns 30 minutos.

O Vaporetto que pegamos estava taaaao absurdamente lotado que fomos em pé exprimidos, depois entrar levados pela horda, feito metrô da Sé às 5hs da tarde! Tanto que um senhor idoso na nossa frente tinha se perdido da esposa, que ficou pra trás na hora de embarcar. Nem ele conseguiu sair, e nem ela entrar. Uma confusão danada!

Nós fomos direto pra Piazza San Marco (Praça de São Marcos), que é a praça principal de Veneza. Essa praça que normalmente já é cheia de turistas e pombos, estava particularmente lotada no dia que fomos. Mais tarde teria um evento na praça e toda a estrutura estava sendo montada ao longo de toda praça, sobrando apenas um corredor pros turistas, pombos e muitos vendedores.

É ali mesmo na praça que fica a Basilica di San Marco (Basílica de São Marcos). Construída a partir do século XI, com cúpulas bizantinas e muitos mosaicos, a Basílica é com certeza um dos maiores símbolos de Veneza. Foi originalmente construída para abrigar os restos mortais do apóstolo Marcos, trazidos do Egito. Mais tarde, muitas relíquias foram saqueadas de Constantinopla (hoje Istambul) na época das cruzadas, incluindo artefatos que vieram da Mesquita Hagia Sophia, e trazidas para a Basílica. Por isso, apesar da igreja ter sido construída em estilo renascentista, tem um exotismo oriental.

Infelizmente quando fomos a fachada estava sendo reformada. E a fila para entrar era taaaao grande que resolvemos voltar mais tarde, mas acabamos desistindo e só vimos por fora.

Em frente à Basílica fica a Campanile (Torre do Sino), e é possível subir pra ver a vista de Veneza. O atual campanário tem 99 metros e é uma reconstrução de 1912, visto que a torre histórica desabou.

Bem ali ao lado, fica o Palazzo Ducale (Palácio Ducal). Este grande palácio gótico foi a residência oficial do Doge (Duque) desde o século IX e a sede do governo da República de Veneza por quase sete séculos. E é outro ícone da cidade, que também está sempre apinhado de gente.

E não muito longe da praça também já estão os outros pontos turísticos, como a famosa Ponte di Rialto. Construída em 1173, a ponte passou por inúmeras reformas e é outro símbolo de Veneza. Ela fica bem no Grand Canal, possivelmente o canal mais fotografado de todo o planeta! Infelizmente, a ponte também em manutenção quando fomos. Basicamente, as atrações mais importantes estavam todas em manutenção quando fomos! hahaha

Ainda assim, nossas desventuras em série nem tinham começado! hahahah Tudo teria ido melhor se simplesmente tivéssemos continuando andando a esmo e explorando por conta os canais e Veneza. Mas foi aí que caímos na maior cilada EVER! Como ainda não éramos gatos escaldados de viagem, acabamos caindo numa lorota e comprando um passeio “Veneza em um dia”, que prometia um tour de manhã por Burano, Torcello e Murano, seguido de um walking tour a tarde e terminando com o passeio de gôndola no fim da tarde. E, claro, o atrativo é que com o “pacote” o passeio de gôndola saíria com desconto.

Então depois de comprar isso, fomos pra doca pegar o barco pra ir pra Burano, Torcello e Murano, passando cerca de 50 minutos em cada parada. E poderíamos muito bem ter feito isso por conta, simplesmente usando o Vaporetto, ainda que eu não negue que o tour otimizou um pouquiiinho o tempo por não termos que esperar o Vaporetto passar. Mas se vc já pegou o passe pra usar o Vaporetto o dia todo, esses tours que são vendidos em toda esquina, são completamente dispensáveis. Até porque não é um tour tradicional com guia, mas simplesmente um sistema de transporte.

A primeira parada foi em Murano. E é nessa ilha que são feitos os tradicionais cristais de Murano desde o século XIII. E são várias as fábricas e lojas vendendo cristais. Basicamente, o tour nos levava pra um, onde tinha uma breve demonstração de como o cristal é feito, seguido por tempo para “compras”.

Depois paramos em Burano. A ilha de Burano é bem fofinha, com casinhas coloridas, parecendo uma “mini-Veneza”. Pra mim, foi a que mais valeu a pena das três ilhas!

Burano também é conhecida pelos trabalhos de rendas feitas à mão. Atualmente, porém, grande parte das rendas vendidas nas lojas locais é importada. Então preste atenção se quiser comprar. Em algumas das lojas, há senhorinhas ainda bordando, ou algumas bordando na porta de casa. E foi diretamente com uma delas que eu comprei alguns bordados.

Por fim, seguimos para Torcello. A ilha de Torcello foi a primeira a ser habitada na região e abriga a Basilica di Santa Maria Assunta, a igreja mais antiga de Veneto (região da Veneza). Posteriormente, a ilha foi abandonada por conta de um surto de malária e hoje conta com cerca de apenas 80 moradores. Basicamente, o tour te dá o tempo de ir até a igreja e voltar e aí já é hora de voltar pra Veneza. Mas pra ser justa, realmente a ilha não tem muita coisa fora a igreja.

De volta, era hora de almoçar e mesmo com os preços absurdos de Veneza, todos os lugares lotados. Sem muita escolha e com fome, paramos em um lugar qualquer pra comer mal pagando muito mais do que deveríamos, já que logo tínhamos o walking tour por Veneza.

Com almoço péssimo garantido, começamos o walking tour na chuva. Choveu durante o tour inteiro! E vc já viu um walking tour que não passa pelas principais atrações da cidade!? Pois é! Ficamos de ruela em ruela, andando de um lado pro outro na chuva, durante quase 2 horas, sem sequer passar pela Piazza San Marco, pelas pontes ou qualquer menção aos pontos principais da cidade! A parte do Palazzo Contarini del Bovolo, não vimos nenhuma atração durante o tour todo!

E depois fomos para uma filha gigante pro passeio de gôndola. E foi aí que descobrimos que a gôndola seria compartilhada por 6 pessoas! Chegando na nossa vez de entrar, deveríamos ter sido os primeiros, mas chegou um grupo de 4 pessoas cortando a filha junto com uma empresa (não sei se do mesmo operador que o nosso), que entraram na nossa frente e, óbvio, pegaram os melhores lugares. Perguntamos se poderíamos pegar a próxima gôndola, ou irmos juntos, e nos responderam “you don’t choose” (“vc não escolhe”). Assim, eu fui em um canto da gondola e o David separado na outra ponta sozinha, completamente separados em plena lua-de-mel. Naaada romântico! Pra piorar basicamente demos uma volta no quarteirão de gondola! hahahah Eram tantas e taao apertadas onde estávamos, que ficamos mais parados do que “navegando de gondola” o tempo todo!

Pior ainda, no fim da conta pagamos quase que o mesmo por uma gondola só pra nós 2, pra não escolher o trajeto e nem ficarmos juntos. Acho que o David não perdoou até hoje por ter insistido em comprar esse pacotão maravilha em plena lua-de-mel! hahahah

Depois disso, já no fim de um longo dia, e com a sensação de que Veneza era o lugar mais pega-turista da Terra, eu só queria voltar pro hotel em Mestre, tomar um banho, e ter uma boa refeição em algum bom restaurante por lá!

No outro dia choveu mais de manhã, e também tivemos estresse pra desbloquear nossos cartões com nosso banco no Brasil (que tínhamos já desbloqueado antes de viajar e antes de existir atendimento online), de forma que ficamos no hotel até a hora do check out. Depois ficou tarde pra ir pra Veneza, ainda mais que logo já seria hora de embarcar no cruzeiro.

A experiência como um todo foi tão ruim, que eu não quis saber de voltar a Veneza, nem qdo fui pra Verona, que é ali do lado, em outra viagem. Maaas, quem sabe, hoje em dia, gato escaldado de viagem e que não cai mais em armadilhas pra turistas desavisados, eu até fosse aproveitar mais. Até porque já iria com as expectativas alinhadas com a realidade do local: que não importa quando vai ser muito cheio, muito caro e muito atribulado.

Então, a maior dica desse post é: faça tudo por conta, até porque td está meio que concentrado na mesma ilhota. Cuidado com a a gondola, que pode ser a maior furada! E não espere encontrar uma cidade tranquila e romântica, mas uma multidão de turistas em ruelas apertadas! Então, apenas relaxe.

Achou 80 euros muito caro pra um passeio de gondola de 30 minutos, dos quais um bom tempo é só ela parada disputando espaço com outras gondolas!? Não faça. O mais legal é andar pelos canais.

Não caia em walking tour. Vá andando no seu ritmo e aproveitando a cidade. Apesar de serem 118 ilhas, a verdade é que tudo fica bem concentradinho em uma ou duas. E por mais que vc ande pra lá e pra cá, não tem muito como se perder e vai cair nos mesmos lugares.

Também fuja dos tours pra Burano, Murano e Torcello. Use seu passe e vá por conta. Se o tempo estiver curto, não é o mais essencial. E se tiver que escolher uma, Burano é a mais bonitinha.

Onde se hospedar

Nós nos hospedamos na cidade de mestre Mestre, já que quando pesquisei uma espelunca caindo aos pedaços ficava em média uns 150-200 euros a diária. Daí vi que Mestre tinha muitas opções de hotéis e restaurantes, com preços amigos do bolso. Além disso, eu não queria ser um daqueles turistas perdidos carregando malas naquelas vielas de Veneza tentando achar o hotel certo, escadas acima e abaixo, disputando espaço no Vaporetto. Então, pra mim, Mestre parecia ter o melhor custo-benefício.

Mestre fica a 10 minutos de trem de Veneza e tem uma grande frequência de trens. Basta comprar o bilhete na máquina e pegar o próximo que estiver partindo. Cada bilhete custa 1,30.

Nós ficamos no Hotel Villa Constanza, a apenas 5 minutos a pé da estação. E o hotel tinha tudo o que precisávamos ali: boa localização, bonitinho e barato.